FINOM
– FACULDADE DO NOROESTE DE MINAS
HISTÓRIA
E CULTURA AFROBRASILEIRA
SISTEMA
DE COTAS PARA NEGROS: CAMINHO PARA A DEMOCRACIA RACIAL OU OFICIALIZAÇÃO DA
SEGREGAÇÃO
CAYNÃ
DO PRADO VIANA
TRÊS
CORAÇÕES
2010
CAYNÃ
DO PRADO VIANA
SISTEMA
DE COTAS PARA NEGROS: CAMINHO PARA A DEMOCRACIA RACIAL OU OFICIALIZAÇÃO DA
SEGREGAÇÃO
Monografia
apresentada o centro de pós-graduação da Faculdade do Noroeste de Minas –
FINOM, como requisito parcial à obtenção do título de Pós-Graduado em História
e Cultura Afro-brasileira.
Orientador: Prof° Sérgio Rabello
TRÊS CORAÇÕES
2010
CAYNÃ
DO PRADO VIANA
SISTEMA
DE COTAS PARA NEGROS: CAMINHO PARA A DEMOCRACIA RACIAL OU OFICIALIZAÇÃO DA
SEGREGAÇÃO
Esta monografia foi julgada
adequada para a obtenção do título Especialista em História e Cultura Afro
brasileira pela Faculdade do Noroeste de Minas – FINOM.
Sérgio
Rabello
Coordenador do Curso
Coordenador do Curso de
Pós-Graduação em História e Cultura Afro brasileira - FINOM.
Apresenta
à comissão examinadora integrada pelos seguintes professores:
_______________________________________________
Sérgio
Rabello
Orientador Professor(a)
Presidente da Banca– (FINOM
Faculdade do Noroeste de Minas)
___________________________________________
Professor(a)
Membro da Banca – (FINOM Faculdade
do Noroeste de Minas)
INTRODUÇÃO
O
presente trabalho abordará o tema cotas para negros e indígenas auto declarados
em Universidades públicas, prevista pelo Projeto de Lei 3627/ 2004
Embasando
tal pesquisa no texto deste Projeto de Lei e no Artigo 5° da Constituição
Federal da República Federativa do Brasil de
1988
- “Todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)” e
contrapondo as divergências existentes, buscar-se-á concluir tal debate à luz
dos conhecimentos históricos, sociais e legais, acerca da validade da execução
do Projeto de Lei de Cotas em Universidades, e se com esta iniciativa se
conseguirá alcançar a sonhada democracia racial ou se com a efetiva execução
deste Projeto de Lei o que estarão fazendo é oficializar a segregação racial no
país.
Com
a intenção de chegar a resultados adequados e condizentes com a sociedade
brasileira será realizada revisão bibliográfica, especialmente dos autores
Darcy Ribeiro, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Junior, Gilberto Freyre,
Edison Carneiro e outros, além da observação e atenção à Constituição Federal
de 1988 e consulta a dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE e do DIEESE. Desta forma, acredita-se que será possível atingir bons e
palpáveis resultados.
Este
estudo será dividido em três capítulos: um abordando a história do negro no
Brasil, assim, tratando da inserção do negro e da mão de obra escrava negra
africana, assim como os processos de segregação racial do negro; outro a
política de cotas para negros e indígenas em instituições públicas de ensino
superior, com o enfoque no negro, pois este e sua história são a abordagem do
presente estudo; e por último, a questão da democracia racial, com sua
conceituação e parecer sobre as possibilidades de se angariar tal objetivo.
A história do negro no Brasil é um
emaranhado de contribuições culturais, sociais e econômicas. Nas eras de
submissão do Brasil a Portugal: Período Colonial e o Império, muito da história
dos africanos é opressão, escravidão, castigos corporais e o tão terrível
comércio chamado de negreiro. Em meio à opressão sofrida, começa a surgir
resistência negra à condição que foram impelidos. O sistema colonial, que tinha
como principal alicerce a escravidão, o trabalho compulsório, começa a ficar em
xeque com várias pressões contra a escravidão. Pressões e interesses
comerciais, econômicos e políticos internos e externos. Devido a tanta pressão,
não restava alternativa para Portugal a não ser libertar os negros. Os negros
foram libertados e jogados na sociedade, sem nenhuma intervenção governamental
para promover a integração dos ex-escravos. A lei 3627/ 2004, em vigor, que
prevê reserva de vagas para negros em instituições públicas de ensino superior.
Tal iniciativa, que pode ser uma alternativa para a promoção da democracia
racial no Brasil ou a oficialização da segregação no país, tem gerado muita
polêmica e debate, principalmente devido a chocar-se com o Art. 5° da
Constituição Federal.
PALAVRAS – CHAVE: Negro, Democracia
Racial, Sistema de Cotas.
ABSTRACT
Black History summary in Brazil is a tangle of
cultural, social and economic. In eras submission of Brazil and Portugal:
colonial empire, much of the history of African slavery, oppression, corporal
punishments and the terrible trade called slave. Through the oppression
suffered, black resistance begins to arise that were propelled condition. The
colonial system, which had as main Foundation slavery, soybeans, work begins to
be in check with several pressures against slavery. Commercial pressures and
interests, economic and political internal and external. Due to pressure, not
only alternative to Portugal to not release the blacks. The blacks were
released and played in society, without any government intervention to promote
the integration of ex-slaves. The law 3627/2004, in force, which provides
all-inclusive for blacks in higher education public institutions. This
initiative, which can be an alternative for the promotion of racial democracy
in Brazil or the formalization of segregation in the country, has generated
much controversy and debate, mainly due to shock with the art. 5¡c of the Federal
Constitution.
Key words: Black,
democracy racial quota system
I HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL
A história do negro no
Brasil é um emaranhado de contribuições culturais, sociais e econômicas, e
também de apelos, sofrimentos, lágrimas, suor e sangue derramados.
Os negros do Brasil foram
trazidos principalmente da costa ocidental africana. Distinguem-se, quanto aos
tipos culturais, três grandes grupos. O primeiro das culturas sudanesas é
representado, principalmente, pelos grupos Yorubá – chamados nagô -, pelos
Dahomey – designados geralmente como gegê – e pelos Fani – Ashant – conhecida
como minas – além de muitos representantes de grupos menores da Gâmbia, Serra
Leoa, Costa da Malagueta e Costa do Marfim. O segundo grupo trouxe ao Brasil
culturas africanas islamizadas, principalmente os Peuhl, os Mandinga e os
Haussá, do norte da Nigéria, identificados na Bahia como negros malé e no Rio de Janeiro como negros alufá. O terceiro grupo cultural
africano era integrado por tribos Bantu, do grupo congo – angolês, provenientes
da área compreendida pela Angola e a “Contra Costa”, que corresponde ao atual
território do Moçambique.
Da África, sua Terra
Mãe, os negros, como se sabe, de diversas etnias, foram sequestrados pelos
europeus e para o Brasil trazidos para exercerem o trabalho escravo,
compulsório, distantes de sua terra e vivendo em conjunto com tribos amigas e
inimigas. Foi desconsiderado pelos sequestradores europeus totalmente alguns
negros serem príncipes, reis de seu povo. Sem nenhum respeito à posição e
importância que ocupavam em meio à sua tribo, todos foram raptados, retirados
de sua terra e em navios chamados “negreiros” era feito o transporte deles,
empilhados, feito mercadoria em estoque.
Os invasores lusos,
percebendo a inviabilidade da escravização dos nativos de Pindorama, tiveram de trocar a estratégia para exploração da terra,
pois os índios tinham amplo conhecimento do território, o que lhes dava muita
vantagem na execução de fugas e combates aos portugueses, e, culturalmente, não
aceitava a realização daquela forma de trabalho, compulsório e, por vezes
semelhante às atividades domésticas, que deveriam ser realizadas por suas
mulheres. Então os lusos adotam a prática do trabalho escravo negro africano.
Deu-se aí, então, início a uma rentável atividade econômica: o tráfico
negreiro.
Os negros africanos foram trazidos
(raptados) da sua terra para uma que não conheciam, apesar de haver semelhanças
geográficas entre África e Brasil. Os contingentes de negros escravos chegaram
para trabalhar nas lavouras de cana-de-açúcar,
posteriormente, na mineração.
À época de escravidão nos canaviais surgiram os
consideráveis levantes dos negros, como as fugas e a formação do Quilombo dos
Palmares, liderado por Ganga Zumba e Zumbi, representação de relevante
importância na luta dos negros contra a escravidão no continente americano. E a
Revolta do
Malês, o levante dos negros islamizados. As lutas
entre senhores e escravos deram interessante dinâmica ao modo de produção escravista, pois a partir
das seguidas revoltas e levantes contra o senhorio foi necessária maior rigidez na administração e vigília do
trabalho dos negros escravizados. E, certamente, ter como “parceiro” um escravo
para isto daria bom auxilio. Surge, então, a figura do capitão-do-mato, um
escravo que era considerado de confiança do proprietário da terra e era
“libertado” em troca da prestação de serviços de gerenciamento e vigília e,
quando necessário “caça” dos negros fugitivos.
Os escravos da mineração, quando iniciado o
predomínio de tal economia, que “abriu” certo respaldo para dinamização social,
pois aquele que conseguisse ouro teria possibilidade de ascender de classe
social ou o escravo poder se tornar livre, comprando a sua alforria com o ouro
encontrado, tinha expectativa de vida ainda menor que os escravos de períodos
anteriores, pois o trabalho nas minas e vias subterrâneas era árduo e perigoso,
assim, encurtando-se muito o período de vida produtiva do escravo.
O escravo que encontrasse ouro poderia comprar
sua liberdade com este, mas a sociedade mineradora era uma sociedade sem leis, Goiás
e Minas Gerais principalmente, lugar onde foi encontrado muito ouro, tornou-se
terra de ninguém. Assim, o negro que encontrasse ouro ainda tinha de lutar por
esse ouro e pela sua sobrevivência.
O cultivo da cana de açúcar foi a primeira
grande atividade econômica trabalhada pelos negros africanos escravizados. Tal
atividade teve como característica marcante a monocultura.
Da Ilha da Madeira que a cana foi para Duarte
Coelho plantar em sua capitania de Pernambuco. Em 1548 a cana chegava à Bahia,
a São Paulo e ao Rio de Janeiro.
Três fatores foram essenciais para a produção
de açúcar: terra, engenho e o escravo.
A mão de obra escrava foi de suma importância
para o êxito e monopólio da cultura da cana de açúcar.
1.1. O comércio de gente
Muitos negros eram escravizados para o trabalho escravo, para que
muitos portugueses, ingleses e outros pudessem produzir riquezas. Ninguém se
aliava aos negros, nem mesmo a própria Igreja, por isso foram escravizados,
torturados e mortos.
Essa gente humilhada constituía, nas primeiras décadas do século
XVIII, um terço da população total da Colônia. Nas extensas plantações de cana,
fumo, algodão ou café, na mineração, cada vez que se abria uma nova frente
econômica, aumentavam as levas de negros trazidos para o Brasil.
O Papa Nicolau V, em 1454, assinou a bula dando direito aos
portugueses nos negócios da África, inclusive capturar os negros e mandá-los
para o reino. Os seguidores do Papa achavam melhor batizar os negros, porque
seria o motivo para salvar-lhes a alma.
Então, Portugal fazia o tráfico e levava os negros para a fé cristã,
com isso, o tráfico era rentável, gerando lucro para os portugueses e a Igreja
ganhava comissões no desprezível comércio.
Os portugueses conquistaram a costa africana, com o apoio de alguns
chefes tribais, e deram início à captura de homens e mulheres para o trabalho
escravo. Os negros capturados vinham acorrentados em porões superlotados,
úmidos e com pouca ventilação, assim, quase metade deles morria durante o
trajeto. Ao desembarcarem no Brasil, eram postos em quarentena, para evitar
mais perdas por doenças. Os negros eram reunidos em galpões e, para serem
vendidos, melhoravam a aparência deles dando refeições e besuntados em óleo de
palma, que escondia as feridas e dava vigor à pele.
A escravidão não é invenção dos portugueses e já existia na África.
Mas o tráfico mercantil, liderado por Portugal e depois pelo Brasil, espalhou a
prática em escala sem precedentes no oceano Atlântico. “Perversidade
intrínseca: escravos eram adquiridos pelos traficantes em troca de mercadorias
produzidas pela força de trabalho escrava.” (PINSKY, Jaime – A
Escravidão no Brasil).
O
navio negreiro – ou “tumbeiro” – arrastou mais de 11 milhões de africanos para
as Américas. Em caravelas ou barcos a vapor, europeus, americanos e até negros
se metiam no infame comércio. Os traficados eram, em maioria, homens de oito a
vinte e cinco anos. Mas o tráfico mudou nos seus últimos anos. “Tudo quanto se
podia trazer foi trazido: o manco, o cego, o surdo, tudo, príncipes, chefes
religiosos, mulheres com bebês e mulheres grávidas”, disse, em depoimento ao
Parlamento Britânico, em 1840, o ex – traficante Joseph Cliffer. (PARRON, Tâmis – Revista Aventuras na História, Edição 11, julho/
2004, páginas 6 e 7).
Havia leiloes públicos de lotes de escravos e seus preços variavam de
acordo com a demanda ou a caracterização do grupo.
De certa forma os negros foram a alavanca do comércio inglês, abrindo
mercados e acumulando capitais com o lucro vindo pelo tráfico.
Os motivos que levaram a Inglaterra a ter interesse no tráfico de
escravos é que obtêm lucros no comércio de negros e que a fim desse comércio
será de grande importância para a implantação do sistema econômico que
pretendem exportar para o Brasil – Império.
Sabendo que a Inglaterra foi o primeiro país a abolir a escravidão
(1772), os ingleses utilizaram o trabalho escravo nas suas colônias da América.
As guerras e invasões para capturar escravos geravam instabilidade e a
perda de população tinha efeitos negativos.
Por outro lado, os preços que os europeus pagavam pelos escravos,
sempre em alta, significavam lucros para os mercadores e governantes africanos
que negociavam os escravos.
As pressões inglesas para acabar com o tráfico negreiro se
intensificaram ano a ano. Os ingleses começaram a se “importar” com o conceito
de igualdade após 1750.
Isso porque para ampliar o mercado consumidor de seus produtos, era
necessário multiplicar também o número de trabalhadores. A Inglaterra queria o
fim do tráfico devido à concorrência do açúcar brasileiro com o produzido nas
Antilhas.
As pressões da Inglaterra para que pusesse fim ao tráfico se chocaram
com os interesses dos escravagistas. Estes, fazendeiros ou traficantes,
argumentando que a influência da Inglaterra lesava a soberania nacional,
conseguiram propagar um forte sentimento antibritânico, que se difundiu pelas
camadas populares.
Mas o tráfico continuou, e a Inglaterra não desistiu. Sentindo-se
prejudicado por medidas protecionistas tomadas pelo Governo imperial, promulgou
em 1845, o Bill Aberdeen. Essa lei equiparava o tráfico negreiro à pirataria,
dando a marinha o direito de apresentar os navios negreiros que encontrasse.
Os acontecimentos políticos obrigam a corte a voltar para Lisboa em 1821
e em 1822 o Brasil proclama sua independência.
Em 1826, para reconhecer a independência, exigiu que o tráfico
cessasse até 1830. Como esta medida não foi adotada, passou a pressionar o
governo. Por isso, em 07 de Novembro de 1831, foi promulgado a primeira lei
proibindo o tráfico negreiro. Essa lei tornava livres todos os negros vindo da
África, e ilegal o comércio de escravos. Mas não só não foi cumprida como o
tráfico aumentou.
A luta inglesa pelo fim do tráfico vai levar o Estado brasileiro à
modernização.
Em 1850, a lei Eusébio de Queirós proibiu o tráfico de escravos. Como
houvesse muito contrabando de escravos, em 1854 a lei Nabuco de Araújo criou
uma fiscalização mais severa e estabeleceu pesadas penas aos traficantes.
O fim do tráfico vai levar o Império a fazer as pazes com a
Inglaterra, onde surgirão relações com o capitalismo inglês, que permitirá uma
modernização do país, aumentando o grau de dependência ao seu imperialismo.
O negro e sua liberdade, sua vida, direitos inerentes a todos, por
muitos tempo permanecer a mercê de interesses políticos e econômicos de
estrangeiros e de elites dominantes na sociedade brasileira.
1.2. A economia açucareira
O ciclo da cana-de-açúcar foi a primeira atividade economicamente
organizada do Brasil. A partir da fundação do primeiro engenho de
cana-de-açúcar pelo Sr Martins Afonso de Souza, em 1532, e por mais de dois
séculos o açúcar foi o principal produto brasileiro, convivendo, contribuindo
e, às vezes, resistindo às mudanças sócio – político - culturais deste período.
A necessidade de colonizar a terra para defendê-la e explorar suas
riquezas fizeram com que o Governo de Portugal instalasse engenhos produtores
de açúcar no nosso litoral, essa cultura foi escolhida por se tratar de um
produto de alto valor no comércio europeu e por seu consumo crescente na
Europa.
No início da colonização Brasileira o governo metropolitano resolveu
estimular alguns portugueses a instalarem engenhos para produzirem açúcar no
litoral do Brasil. Era preciso efetivar a aposse da terra para defendê-la e
também explorá-la em suas riquezas. Optou-se pela cana de açúcar por se tratar
de uma cultura rápida, chegando ao corte a partir do segundo ano e também
devido ao tipo de solo existente, o massapé excelente para o plantio de cana.
Além disso, o Nordeste, por sua localização estratégica, permitia fácil
escoamento do açúcar produzido estando mais próximo dos mercados consumidores.
Outro fator que contribuiu na decisão de cultivar a cana foi o preço do açúcar
alcançado no comércio europeu
O consumo do açúcar, em ascendência na Europa, logo seria o principal produto
brasileiro - século XVI e XVII - tornando o açúcar a base de sustentação da
economia e da colonização do Brasil durante estes períodos.
A cultura da cana de açúcar propiciava aos donatários de terras da
ocupação das mesmas, pois povoados se formavam em torno dos engenhos. O
primeiro engenho foi instalado por Martins Afonso de Souza, em 1532.
Foram grandes as dificuldade encontradas para desenvolver o ciclo do
açúcar, tais como: dinheiro para montar as moendas, comprar escravos,
transportar os colonos brancos, comprar navios para transportar os equipamentos
e sustentar os trabalhadores até que a produção do açúcar desse lucro, além da
preocupação com o refino e
comercialização do produto.
Os holandeses surgem, então, como financiadores, transportadores e
negociadores do nosso açúcar no mercado consumidor europeu. Podemos dizer que
foram os holandeses o maiores beneficiados de forma lucrativa com o nosso
açúcar.
A produção do açúcar no Brasil se tornou motivo de grandes invasões,
como as holandesas, ocorridas em Pernambuco, em Pernambuco, maior produtor de
açúcar. Estas invasões resultaram em grande perda de engenhos, muitos
destruídos, causando um retrocesso na economia, que logo se recuperou, pois o
declínio da mineração, no final do de século XVII, permitiu um novo florescimento
da economia açucareira, não só em Pernambuco, e na Bahia onde era tradicional,
mas também na região de Campos e em algumas zonas de São Paulo. Essa economia
teve como classe dominante os grandes proprietários senhores de engenho, que
eram também os donos de escravos (classe dominada) e os donos do poder.
Em 1560, Portugal ganhava ascendência no comércio europeu, com o
açúcar fabricado no Brasil. Com o êxito do açúcar no comércio, o governo
português incentivou a expansão das fábricas em sua colônia tropical americana.
Com isso Portugal estava, com estímulos oficiais, desenvolvendo a economia
brasileira. Lavouras extensivas de cana-de-açúcar surgiram para alimentar os
engenhos. Estes por sua vez eram instalados à beira-mar ou nas proximidades dos
rios por necessidade não só de seu funcionamento como também pela questão de
transporte do produto. Ao lado do canavial, nascia a agricultura de
subsistência, para atender a crescente necessidade de alimentos para a casa
grande, a senzala e a pequena parcela de assalariados livres. A propriedade
rural, verdadeiro feudo, era, então, assim formada:
·
Casa
Grande, onde vivia o senhor com sua família, exercendo grande autoridade sobre
todos. Era um verdadeiro patriarca.
·
A
senzala era uma grande construção onde os negros escravos viviam
miseravelmente, tratados como animais e sujeitos a toda a sorte de violência e
castigos.
·
A capela
onde se realizavam as cerimônias religiosas. Além, de centro religioso, a
capela era um centro social, pois nela se reuniam todos os homens livres do
engenho e das proximidades.
·
E a
moenda, onde a cana-de-açúcar era moída. O caldo corria da moenda par tachos
por meio de calhas. Dos tachos, o caldo era retirado em vasilhas de cobre
levado para a caldeira, onde era fervido e mexido pelos escravos, que tiravam
impurezas e a espuma.
A produção açucareira, indubitavelmente, foi a primeira forma
organizada de produção econômica do Brasil. Em conjunto à organização econômica
deu traços da organização social brasileira, dividindo-se a sociedade em
castas, sem mobilidade alguma.
Com o crescimento de tal atividade da economia, surgiram também os
interesses e interferências externas, pois passou a fazer concorrência com o
açúcar produzido nas Antilhas.
Durante o monopólio açucareiro surgiram significativas manifestações
de resistência negra à escravidão. A mais importante delas, sem sombra de
dúvida, foi a organização do Quilombo dos Palmares, liderado por Zumbi e Ganga
Zumba, e que teve, com a morte de Zumbi, estabelecida data comemorativa para o
povo negro: 20 de Novembro, o Dia da Consciência Negra, em homenagem a memória
do líder dos Palmares, morto a vinte de novembro em 1695, que tanto lutou
contra a opressão sofrida pelo seu povo nos engenhos de açúcar. E também a
polêmica discussão acerca de Calabar, negro mestiço, que durante as invasões
holandesas chegou, por fim, a lutar do lado dos flamengos, visando o que
considerava melhor para si próprio, e que nos leva a um debate sobre fidelidade
e traição à pátria e outro caso polêmico, desta vez envolvendo um negro
escravo, Francisco, que foi condenado à morte e executada sua sentença, em
1876, em Alagoas. Aquela foi a última vez em que uma sentença de morte foi
cumprida no Brasil.
A campanha abolicionista,
iniciando seu fortalecimento a partir do século 17, com a propagação de tais
ideias pelos abolicionistas brasileiros e com as pressões inglesas para que se
acabasse com o tráfico de escravos e posteriormente pela abolição, devido a
seus interesses comerciais.
1.3. A mineração
Durante o primeiro século da colonização, Portugal sonhava encontrar
jazidas de metais preciosos no Brasil. “Até agora não podemos saber se há ouro
ou prata”. Mas ainda demoraria um século para que os portugueses encontrassem o
minério. A busca pelo metal também gerou conflitos, como a Guerra dos Emboabas,
em 1707.
“Em suas andanças pelos sertões, os paulistas iriam afinal realizar
velhos sonhos e confirmar um raciocínio lógico. O raciocínio continha em uma
pergunta: se a parte do continente que pertencia à América Espanhola era rica
em metais preciosos, por que estes não existiriam em abundância também na
colônia lusa?” (Escreveu
Pero Vaz de Caminha ao Rei Manoel I, em 1500).
O enorme avanço territorial e demográfico da colonização portuguesa na
América ocorrido no século XVIII se fez acompanhar por um aumento
correspondente das tensões econômicas, sociais e políticas.
Na base da sociedade estavam os escravos. O trabalho mais duro era o
da mineração, especialmente quando o ouro do leito dos rios escasseou e teve de
ser buscado nas galerias subterrâneas. Doenças como disenteria, a malária, as
infecções pulmonares e as mortes por acidentes foram comuns. Há estimativa de
que a vida útil de um escravo minerador não passava de sete a doze anos.
Seguidas importações atenderam às necessidades da economia mineira, inclusive
no sentido de substituir a mão-de-obra inutilizada. O número de cativos
exportados para o Brasil cresceu entre 1720 e 1750, apesar da crise do açúcar.
Os dados da população da Capitania de Minas, levantados em 1776, mostram a
esmagadora presença de negros e mulatos. Dos cerca de 320 mil habitantes, os
negros representavam 52,2%; os mulatos, 25,7%; e os brancos, 22,1%. (História
do Brasil, pág.
102 - 104. FAUSTO, Boris).
O escravo que encontrasse ouro poderia comprar sua liberdade com este,
mas a sociedade mineradora era uma sociedade sem leis, Goiás e Minas Gerais
principalmente, lugar onde foi encontrado muito ouro, tornou-se terra de
ninguém. Assim, o negro que encontrasse ouro ainda tinha de lutar por esse ouro
e pela sua sobrevivência.
De fato, na sociedade mineradora havia certa mobilidade social, porem
tal sociedade era “sem leis”, a busca pelo ouro instigou aquilo que há de mais
podre, mais abominável no ser humano: a ganância.
Partiram todos almejando metais auríferos e desconsiderando tudo.
Tornou-se “terra de ninguém”.
E os negros escravos, assim, cada vez mais oprimidos e explorados.
1.4. Abolição da escravidão
A abolição da escravatura no Brasil, que alterou de imediato a
estrutura de produção agrícola e, a longo prazo, as fórmulas sociais e étnicas
pelas quais se compôs a população do país, não foi um simples gesto magnânimo
do poder imperial imbuído de princípios humanitários. Lentamente preparada por
sucessivos avanços ao longo do século XIX, a abolição decorreu, isto sim, da
inevitável conjunção de dois fatores de peso: as pressões externas da política
inglesa, que de há muito se opunha ao tráfico escravista, e as pressões
internas de um grande movimento popular, o abolicionismo, cujas origens
remontam aos quilombos e às revoltas de africanos iniciadas ainda no período
colonial.
Do ponto de vista estritamente legal, a abolição concretizou-se em 13 de
maio de 1888, um domingo, quando a princesa Isabel, então regente do império,
sancionou a lei n° 3.353, que concedeu liberdade imediata a todos os escravos
existentes no Brasil e se tornou conhecida como Lei Áurea.
Mas a Abolição da Escravatura no Brasil, em seus mais de 300 anos de
duração, ocorreu não somente com a oficialização quando a lei n° 3.353 foi
assinada pela Princesa Isabel. Muitos fatos ocorreram até se chegar à oficial
Abolição. Diversos jogos de interesses estiveram sempre atrelados ao futuro dos
negros. O tráfico negreiro sempre foi para as elites detentoras de poder
econômico e político algo muito vantajoso. Havia também os interesses ingleses
de proibição do tráfico negreiro e incentivo à abolição da escravidão, não por
sentimento humanitário, mas unicamente por almejarem ampliar o seu mercado
consumidor. E, obviamente, o desejo dos negros de findar àquela maldição a que
foram praguejados.
Em Dezembro de 1808 começou o processo de insurreição, eram hauçás e
nagôs unidos pela fé islâmica. As duas nações juntaram-se na rebelião que
terminaria em fuga em 1809, organizada por uma sociedade secreta de governo dos
negros, a Obgoni.
A grande rebelião baiana, porem seria a de 1835, com os nagôs, pois
tinham uma melhor estrutura para resistir à repressão.
Vários choques entre nagôs e forças comandadas por capitães-do-mato
resultaram em muitas mortes de ambos os lados. Em 1828 uma parte dos negros
nagôs fugiu para Salvador para atacar a capital.
Essa violência era o estímulo para uma grande rebelião que explodiria
no dia 13, que foi fracassada devida a uma negra que foi convidada para
participar e denunciou o movimento. Os malês tinham maior liberdade que os das
fazendas, já que se mantinham com seu próprio dinheiro.
Havia muitos que pertenciam a nações de cultura islâmicas, como os
hauçás e nagôs. No entanto, mesmo os escravos que conseguiram comprar a
liberdade continuavam a ser tratados com desprezo e violência, sem qualquer
possibilidade de ascensão social.
Em 1812, surge uma organização negra patrocinada pela Coroa, Companhia
de Pretos de Pernambuco, que foi uma resposta às rebeliões negras. Joaquim
Nabuco fundou em 1880, a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, que
incentivou a campanha abolicionista
O século XVII conheceu o clamor dos “quilombos”, que eram povoações constituídas
pelos negros em busca de uma existência melhor. Em todas as capitanias onde
houve escravidão negra, houve quilombos. Os capitães-do-mato, que eram homens
com a profissão de ir a busca de fugitivos, ganhando um tanto por cabeça, nunca
deixaram de existir no Brasil. Sabe-se que começaram a existir com a chegada
das primeiras levas de negros de Angola, da Guiné ou de Moçambique.
A maioria dos quilombos teve curta duração, não resistindo às investidas
das entradas expedições organizadas pelos fazendeiros para a busca dos
insubmissos. Um deles, porém, enfrentou várias expedições, ao longo de décadas,
antes de ser derrotadas: Palmares.
A Balaiada, a Sabinada e a Insurreição Praieira foram revoltas em que
o negro lutou pela fuga de seu sofrimento e não por ações políticas que tivesse
um fim revolucionário na mudança da sociedade.
Elaboraram-se leis risórias para aliviar a opressão dos negros
escravos como as conhecidas: Lei do Ventre Livre de 28 de setembro de 1871, que garantia aos
filhos de escravos nascidos a partir da data desta seriam livres; e a Lei dos
Sexagenários, de 28 de setembro de
1885, que garantia liberdade aos escravos a partir de sessenta anos de idade,
como se as condições de vida e trabalho deles tornasse possível se ter uma
expectativa de vida como tal. Porem, melhor que nada...
A Guerra do Paraguai só pode ser entendida nos quadros do imperialismo
britânico do século XIX. O Paraguai surgia como o país mais desenvolvido da
América do Sul. Esse desenvolvimento é explicado pela independência e seu
natural isolamento, que permitiu ao Estado organizar as forças, inclusive
manufatura.
Legitimamente, independente, em um contexto de marcada influência do
imperialismo britânico, tornou-se o Paraguai um inimigo pronto para ser
destruído pela Inglaterra e seus fiéis seguidores na América, ou seja, Brasil e
Argentina.
A Guerra do Paraguai foi o derramamento da barbaridade que impregnava
o Império e a Confederação Argentina.
Os ingleses elaboraram o Tratado da Tríplice Aliança, assinado em 1º
de Maio de 1865, e através deste tratado, as forças militares da Argentina,
Brasil e Uruguai se reuniram pela Guerra de Secessão nos Estado Unidos, quando
a falta de algodão para as fábricas inglesas apavorou o capitalismo britânico.
O exército imperial que abrigava milhares de negros em seus batalhões
durante o conflito, não poderia ser o sustentáculo de uma sociedade
escravocrata.
A Guerra do Paraguai foi só uma ideia do papel do negro, pois foi dele
quem a sofreu, morrendo de várias doenças ou das balas e lanças.
Por isso, durante a Guerra o preço dos escravos subiu muito, devido a
formação de um exército, pois o exército refletia na sua estrutura e no seu
corpo militar o desprezo que recebia do governo.
O valor do negro como soldado no Brasil é uma tradição que vem desde o
século XVI, quando eles formaram as primeiras milícias para defender as
capitanias dos ataques dos estrangeiros.
Existem casos que registram a bravura dos negros como no caso do negro
Antonio, em 1625, na luta contra os holandeses, Henrique Dias, organizador da
Legião do Henriques, João Batista de Faria, nomeado em 1859, para a guarda
pessoal de Dom Pedro II, Cesário Alves da Costa, promovido a sargento, cadete
Antonio Francisco de Melo, destacou-se na batalha do Riachuelo.
Como é perceptível, os negros em todo o trajeto da história do Brasil
exerceram grande influência.
Nas últimas décadas do século XIX o Brasil passou por profundas
mudanças a nível econômico e social. O progresso contínuo da produção cafeeira
para o mercado exportador gerou um aumento significativo da renda nacional o
que contribuiu para o florescimento da indústria manufaturada e também para o
desenvolvimento urbano. Por outro lado, as pressões inglesas para o fim do
tráfico de escravos, e a vinda de imigrantes europeus, fez surgir grupos
interessados na liberação da mão- de- obra escrava, visto que esta representava
entraves ao modelo econômico capitalista. Dentro dessa perspectiva o movimento
abolicionista toma força, e passa a ser o motivo de debates inflamados e lutas
aguerridas motivadas por dois segmentos específicos: os escravocratas e os
abolicionistas. Todos dois tinham argumentos e ideais com sentidos
diferenciados, mas em um ponto pensavam iguais, temiam a participação do
escravo ao progresso de libertação. O temor de que a participação do negro
pudesse desencadear uma revolta sanguinária, trouxe a necessidade de deixar a
margem do progresso justamente àqueles que eram os maiores interessados no
mesmo.
A abolição decorreu, portanto, de um movimento de opinião que se
sobrepôs aos partidos e aos próprios grupos monárquicos, nos quais prevalecia
quase sempre a vontade da classe mais rica e poderosa, a dos senhores de
escravos. Em suma, a abolição foi feita pelo povo. Por aqueles que pertenciam
ao "partido dos que não tinham nada a perder", segundo a frase
cáustica do parlamentar liberal Martinho Campos, que se intitulava, cheio de
orgulho, um "escravocrata da gema".
A Abolição tornou-se um imperativo depois da extinção do tráfico, não
só pelo decréscimo que se registrava na população escrava, mas porque era mais
vantajoso o trabalho livre em virtude de sua maior produtividade e dos menores
riscos de investimento.
Com a abolição do escravismo, sem indenização aos proprietários, a
aristocracia escravagista, arruinada, lançou sobre a Monarquia a culpa de sua
desgraça, passando a engrossar as fileiras do movimento republicano.
A marginalização sócio-econômica do negro liberto tornou-se um
fenômeno nacional já nos fins do século XIX, pois à liberdade jurídica não
correspondia às demais liberdades essenciais à sua integração na sociedade.
A abolição da escravidão não significou a emancipação efetiva da
população escravizada. Sem medidas institucionais para promover a sua
integração na sociedade, o negro foi lançado a mercê da própria sorte.
Lei Áurea assinada e aí? O que os negros escravizados que tanto foram
oprimidos fariam agora?
Os negros que foram libertados a 13 de Maio de 1888,
generalizadamente, não conseguiram a sua integração na sociedade, então, tiveram
de procurar alternativas para a sua sobrevivência, é quando se deu a formação
das habitações em morros, conhecidas por favelas, e os cortiços.
Como se não bastasse toda a exploração e sofrimento causados pelos senhores
de terras, escravocratas, estes receberam indenizações pelos prejuízos
econômicos de produção ocorridos após a “libertação” dos escravos.
Mesmo após a tal liberdade, os negros permaneceram a serem oprimidos,
exemplo do episódio da história do Brasil conhecido por Revolta da Chibata, em
que marinheiros negros, em 1910, liderados por João Cândido, insatisfeitos com
os maus tratos, revoltaram-se e tomaram parte da frota de navios de guerra do
Brasil.
II
SISTEMA DE COTAS PARA NEGROS EM UNIVERSIDADES PÚBLICAS
PROJETO
DE LEI 3627/2004
Institui
Sistema Especial de Reserva de Vagas para estudantes egressos de escolas
públicas, em especial negros e indígenas, nas instituições públicas federais de
educação superior e dá outras providências.
O Congresso Nacional
decretou o cumprimento de tal projeto de lei que prevê que sejam reservados 50%
das vagas em instituições de ensino superior para negros e indígenas auto
declarados e que estas vagas, caso não forem completadas com os contingentes de
negros e indígenas, devem ser completadas por estudantes que cursaram o ensino
médio integralmente em escolas públicas.
A intenção deste
capítulo é debater a validade social e pessoal do Projeto de Lei n° 3627/2004 e
se tal iniciativa do Congresso Nacional será capaz de promover a tão sonhada
democracia racial no Brasil ou se trata de oficialização da segregação.
Para isto será
discutido o texto do projeto de lei do sistema de cotas em conjunto com o
Artigo 5° da Constituição Federal de 1988, para verificar se com a execução do
Projeto de Lei n° 3627/ 2004, haverá alguma forma de desrespeito aos direitos à
igualdade e liberdade garantidos na Constituição.
O sistema de cotas para negros
nas universidades, adotado pela primeira vez na Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (UERJ), em 2001, ainda gera polêmica e divide opiniões. Há vários
argumentos contra e a favor, todos bastante sensatos. Tanta incerteza, no
entanto, tem um ponto positivo: a reserva de vagas gera um debate importante
sobre o racismo no Brasil, um país onde o preconceito existe, ainda que de
forma velada.
A primeira instituição federal de
ensino superior a implementar o sistema de cotas foi a Universidade de Brasília
(UnB). O projeto, que entrou em vigor em 2004, prevê a reserva de vagas para
negros e, num percentual menor, índios, durante dez anos.
"Há poucos negros na
universidade e isso dificulta que eles se unam para lutar por seus direitos. É
preciso mudar o tipo de relação que existe na academia. E isso só vai acontecer
quando houver vários negros lá dentro", afirma Carvalho, professor da UnB.
Para Carvalho, no entanto, a
adoção de cotas apenas revela um preconceito que já é real.
Pode explicitar o racismo, que é latente, mas não
gerar um preconceito maior que o já existente. Os negros estiveram fora do
sistema apesar da mestiçagem, que não garantiu a eles o acesso ao ensino
superior. Geneticamente não há raças, mas socialmente elas existem: a
discriminação é pela cor da pele. A intervenção no sistema deve ser racial. Sem
as cotas, os negros continuarão fora do sistema.(CARVALHO, professor UNB)
Mas segundo Yvonne,
historicamente, a maioria das entidades de defesa dos negros tentou combater o
preconceito sem usar a ideia de raça como referência ou exigir qualquer tipo de
favorecimento. Ela cita o exemplo do movimento radicado na Baixada Fluminense,
no Rio de Janeiro, conhecido como Pré-Vestibular para Negros e Carentes (PVNC),
que além de preparar jovens para ingressarem na universidade, procura dar
noções de direitos sociais e cidadania.
No PVNC, negros e pobres (brancos ou não)
concorriam em igualdade de condições. Os mentores do movimento eram contra
qualquer tipo de ajuda financeira ou cotas. Eles não queriam modificar o
sistema, mas sim preparar esses alunos para ingressar nele. As cotas eram
consideradas por muitos como favor e eles queriam concorrer em pé de igualdade.
Esta era a primeira versão do movimento, que inverteu o seu paradigma e hoje
quer que os negros tenham cotas, ou seja, privilégio (YVONNE, antropóloga).
Dados do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) revelam que dos 22 milhões de brasileiros que vivem
abaixo da linha de pobreza, 70% são negros; entre os 53 milhões de pobres do
país, 63% são negros. A política de cotas aplicada a carentes beneficiaria
principalmente a população negra. Esta é a opinião de Demétrio Magnoli, doutor
em geografia humana, para quem a reserva de vagas para negros seria contrária à
democracia.
As cotas são uma solução simplista, que rompe com o
princípio republicano básico de igualdade entre os cidadãos. Os negros não têm
acesso ao ensino superior porque, na maioria dos casos, são pobres e passaram
anos estudando em escolas públicas arruinadas. Em vez de cotas, o Estado
deveria aumentar os investimentos no ensino público. Em poucos anos, os negros
passariam a ocupar as melhores vagas nas universidades (DEMÈTRIO MAGNOLI,
doutor em geografia humana).
O jurista Ives Gandra vai além.
Segundo ele, o sistema de cotas é inconstitucional, porque fere o princípio
fundamental de igualdade entre os cidadãos:
É uma discriminação às avessas, em que o branco não
tem direito a uma vaga mesmo se sua pontuação for maior. Reconheço que o
preconceito existe, mas a política afirmativa não deve ser feita no ensino
superior, e sim no de base".
Assim é o entender do Deputado
Federal Gilmar Machado (PT-MG), um dos coordenadores da bancada de negros na
Câmara dos Deputados em 2003:
A política de cotas não é uma novidade, já foi
adotada para defender mulheres na política, por exemplo, e ninguém a considerou
atrasada. Quando é para o negro, surge a discussão. Nós, do movimento negro,
não desejamos ferir a autonomia das universidades. Mas há uma demanda, poucos
negros estão no ensino superior.
A polêmica em torno da
implantação do sistema de cotas gira em torna de vários pontos, dentre eles (Sobre alguns argumentos contra o sistema de
cotas nas universidades públicas, RODRIGUES FILHO, Abílio):
(I)
a alegação de que as cotas são uma política
equivocada porque o real problema está no ensino médio e fundamental;
(II)
as dificuldades em selecionar quais candidatos têm
ou não têm direito a concorrer pelo sistema de cotas;
(III)
a queda do nível de ensino que a adoção das cotas
supostamente promove nas universidades;
(IV)
a inconstitucionalidade ou não de aprovar um
candidato com pontuação inferior em detrimento a outro com maior pontuação.
Em 1997, a porcentagem de negros
e pardos com mais de 25 anos e nível superior completo no País era de apenas
2,2%, enquanto a de brancos era de 9,6%. Mesmo com a lei de cotas vigorando no
Brasil desde 2001, determinando às universidades federais que reservem 50% das
vagas aos negros e pardos, a diferença entre os representantes desses grupos
raciais e os brancos que concluíram o ensino superior continua em níveis
bastante elevados. Em 2007 - quando muitos que ingressaram pela política de
cotas já estavam formados - o número de brancos era de 13,4%, enquanto o de
negros e pardos alcançava apenas 4%, um número três vezes menor.
Estes dados mostram que, mesmo depois de uma década
na qual houve movimentos em direção a minimizar os obstáculos para a ascensão
dos grupos raciais menos favorecidos, as populações de negros e pardos
continuam em uma situação de maior dificuldade.
As pesquisas realizadas com estudantes entre 18 e
25 anos de idade para averiguar a porcentagem de universitários entre cada uma
das raças, também mostram que a população branca se encontra favorecida
apresentando números mais elevados que os de negros e pardos. Inclusive, a
porcentagem de negros e pardos que freqüentavam uma universidade em 2007 era
ainda menor do que a porcentagem de brancos em 1997.
Segundo o IBGE, entre os estudantes de 18 a 24 anos
de idade, a porcentagem de brancos que se encontram no nível superior é de
57,9% e a dos negros e pardos é de 25%.
Outro dado relevante apontado
pela pesquisa, é que a diferença que favorece os brancos aumentou na última
década. Analisando os dados por idade, se observa que, por exemplo, a
porcentagem da população branca com 21 anos de idade que eram alunos de uma
instituição de ensino superior em 2007 era de 24,2% contra 8,4% de pessoas
pretas e pardas. Uma diferença de 15,8 pontos percentuais. Em 1997 essa
diferença era de 9,6 pontos percentuais (Síntese de Indicadores Sociais 2008 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Projeto de Lei n°
3627/ 2004 prevê o seguinte em seus artigos:
·
Art. 1º As instituições públicas
federais de educação superior reservarão, em cada concurso de seleção para
ingresso nos cursos de graduação, no mínimo, cinqüenta por cento de suas vagas
para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.
·
Art. 2º Em cada instituição de educação
superior, as vagas de que trata o art. 1° serão preenchidas por uma proporção
mínima de auto declarados negros e indígenas igual à proporção de pretos,
pardos e indígenas na população da unidade da Federação onde está instalada a
instituição, segundo o último censo da Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE.
Parágrafo
único. No caso de não-preenchimento das vagas segundo os
critérios o caput, as remanescentes deverão ser completadas por estudantes que
tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.
·
Art. 3º O Ministério da Educação e a
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência
da República serão responsáveis pelo acompanhamento e avaliação do sistema de
que trata esta Lei, ouvida a Fundação Nacional do Índio - FUNAI.
·
Art. 4º As instituições de que trata o
art. 1º terão o prazo de duzentos e quarenta dias para se adaptarem ao disposto
nesta Lei.
·
Art. 5º O Poder Executivo promoverá, no
prazo de dez anos, a contar da publicação desta Lei, a revisão do sistema
especial para o acesso de estudantes negros, pardos e indígenas, bem como
daqueles que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas,
nas instituições de educação superior.
Os
termos dos artigos do Projeto de Lei n° 3627/ 2004 têm os questionamentos todos
de Abílio Azambuja Rodrigues Filho e do professor Carvalho, da UnB, válidos. De
fato, o sistema para reserva de cotas para negros pode acarretar em, além da
oficialização segregação racial no Brasil, causar algum tipo de indignação aos
estudantes que não se enquadrem nos termos dos artigos, obtiverem bom
aproveitamento em avaliações classificatórias, seletivas, o que, por
conseguinte, fere o Artigo 5° da Constituição Federal.
O
que se verifica então, é que essa questão é mais uma questão social do que
racial, apesar da divergência quanto a isto na argumentação do Deputado do
Partido dos Trabalhadores, Gilmar Machado.
III A DEMOCRACIA RACIAL
A
Democracia Racial no Brasil existe ou é uma ideia mitológica?
Com
“Casa Grande & Senzala”, Gilberto Freyre lança um novo olhar sobre o negro
na historiografia brasileira. A partir de uma análise minuciosa da formação da
sociedade brasileira, descreve como se dava a relação senhor-escravo dentro do
engenho, ressaltando a benevolência e a solidariedade que permeavam nesse
universo, criando, dessa forma, o mito da democracia racial. Para sustentar sua
tese, Freyre afirma que brancos e negros eram “duas metades confraternizadas,
que se enriquecem mutuamente de valores e experiências diversas”, escravos
domésticos eram tratados como familiares, pessoas da casa, parentes pobres;
sentavam-se à mesa, passeavam com os senhores. Analisa a presença negra na
história do Brasil, como esteio indispensável para a colonização portuguesa.
Os escravos
vindos das áreas de cultura negra mais adiantada foram um elemento ativo,
criador, e quase que se pode acrescentar nobre na colonização do Brasil;
degradados apenas pela sua condição de escravos. Longe de terem sido apenas
animais de tração e operários de enxada, a serviço da agricultura,
desempenharam uma função civilizadora. Foram a mão direita da formação agrária
brasileira, os índios, e sob certo ponto de vista, os portugueses, a mão esquerda.(FREYRE,
Gilberto. Casa grande & senzala: Formação da família brasileira sob o
regime da economia patriarcal. 34 ed. Rio de Janeiro: Record, 1998)
No
início da década de 60, surge na chamada Escola Paulista, formada por Florestan
Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, Emília Viotti da Costa e
outros, uma revisão no tema escravidão, que combatia o mito da democracia
racial defendido por Freyre, questionando as relações doces e benevolentes
entre senhores e escravos, denunciando os horrores da escravidão em nosso país.
Concluíram que as condições extremamente duras da vida sob o cativeiro haviam
destituído os negros das habilidades necessárias para serem bem sucedidos na
vida em liberdade. As condições desfavoráveis da vida em cativeiro teriam
desprovido os escravos da capacidade de pensar o mundo a partir de categorias e
significados sociais que não aqueles instituídos pelos próprios senhores,
ocorrendo assim, uma “coisificação social” dos negros sob a escravidão.
A
violência exercida pelo sistema escravista chegava a fazer com que os negros
concebessem a si mesmos como não-homens, como criaturas inferiores, como
“coisas”, daí a denominação “teoria do escravo-coisa”.
3.1. Raça e racismo
O
termo “raça” indica, de modo geral, grupos de pessoas que têm características
físicas em comum: cor de pele, estatura, estatura craniana, etc.
Às
vezes, a essas particularidades objetivas são associadas supostas
características morais e psicológicas. Essa falsa premissa é utilizada para
considerar algumas raças superiores e outras inferiores, justificando o domínio
de uma raça sobre outra. É nisso que se apóia o racismo.
Todo
homem carrega a forma inteira da humana condição, ou seja, raça não é mais do
que a humana condição. Fora disso, como existem linhas morfológicas, permitem à
antropologia física classificar os grandes grupos humanos como “europóide”
(branca), “mongolóides” (amarela) e “negróide” (negra).
O
que existe é a diversidade das linhas morfológicas da “raça humana” em função
da adaptação territorial e a diversidade dos modos pelos quais cada grupo
humano relaciona-se com o seu real, ou seja, a diversidade das culturas. A
diferença dita étnica resulta de uma combinação de linhas morfológicas com
singularidades lingüísticas e culturais.
Em
várias partes do mundo existe ainda a segregação racial, isto é, uma parte da
população vive de alguma forma separada dos demais. A intolerância para sinais
de diversidade como cor da pele, religião, hábitos de vida e lugar de origem
continua a causar problemas para milhões de pessoas.
A
afirmação e a defesa da desigualdade biológica das raças humanas constituem a
essência do racismo. Os racistas consideram a raça branca como superior e as
outras raças como a negra e a amarela como inferiores. Os racistas confundem os
conceitos de raça e nação, no entanto, a raça é um conceito biológico enquanto
nação é sociológico. O nível cultural não depende das características sociais,
mas é determinado pelos fatores econômicos e sociais. O pensamento racista não tem
nenhuma base científica, apresentando erros grosseiros de lógica e de
informação. Assim, confunde raça com nação, povo, cultura ou grupo lingüístico,
atribuindo a fatores sociais, e, portanto, hereditários, comportamentos que
nada têm a ver com raça, mas que são condicionados pela cultura, pelo meio
social e pelas condições econômicas.
Os resultados da pesquisa
"Mapa da População Negra no Mercado de Trabalho" realizada pelo
DIEESE para o INSPIR- Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial
demonstram uma situação de reiterada desigualdade para os trabalhadores negros,
de ambos os sexos, no mercado de trabalho das seis regiões metropolitanas
estudadas.
A coerência dos resultados em
nível nacional revela que a discriminação racial é um fato cotidiano, interferindo
em todos os espaços do mercado de trabalho brasileiro.
Nenhum
outro fato, que não a utilização de critérios discriminatórios baseados na cor
dos indivíduos, pode explicar os indicadores sistematicamente desfavoráveis aos
trabalhadores negros, seja qual for o aspecto considerado. Mais ainda, os
resultados permitem concluir que a discriminação racial sobrepõe-se à
discriminação por sexo, combinando-se a esta para constituir o cenário de aguda
dificuldade em que vivem as mulheres negras, atingidas por ambas.
A comparação das taxas de
desemprego nas diferentes regiões mostra que, em Salvador, a taxa de desemprego
entre os negros é 45% maior que entre os não-negros, apresentando cerca de oito
pontos percentuais de diferença (25,7% entre os negros e 17,7% entre os
não-negros). Em São Paulo, ocorre fenômeno semelhante, com uma distância de 40%
entre as taxas de desemprego entre as duas raças. Ainda que em proporções
elevadas, os menores diferenciais ocorrem no Distrito Federal e em Recife.
No total
das regiões, 50% dos desempregados são negros, o que corresponde a 1.479.000
pessoas, em 1998. Em Salvador, os negros são 86,4% dos desempregados e, em
Recife e no Distrito Federal, cerca de 68%. Já em Porto Alegre, representam
15,4% do total de desempregados. Em São Paulo os negros desempregados são 650
mil pessoas e representam 40% dos desempregados desta região metropolitana.
Nas regiões metropolitanas de São
Paulo, Salvador e Porto Alegre, a cor discrimina mais no desemprego que o sexo
do trabalhador, ou seja, as taxas de desemprego são maiores entre os homens e
mulheres negros que entre as mulheres não-negras.
O mesmo efeito discriminatório da
cor se verifica na comparação entre as taxas de desemprego entre os homens
negros e os não-negros. As maiores diferenças nestas taxas encontram-se em
Salvador, onde o desemprego entre os homens negros é 57,9% maior que entre os
homens não-negros, e em São Paulo, onde esta diferença é de 51,4%.
Em todas
as regiões, as mulheres negras apresentam as maiores taxas de desemprego. No
entanto, as diferenças destas taxas entre as mulheres negras e não-negras são
consideravelmente menores do que entre os homens, variando do maior patamar,
36,0% de diferença em Salvador, até o menor (6,7%), no Distrito Federal.
Em
2005, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da população negra brasileira
era de 0,753, equivalente a uma posição entre a do Irã e do Paraguai no ranking
de qualidade de vida da ONU, ou a 95° posição da escala mundial. Já o IDH dos
brancos - 0,838 - correspondia ao de Cuba, na 51° posição.
O IDH é um índice usado pelas Nações Unidas para medira
qualidade de vida das populações, e leva em conta indicadores econômicos, de
saúde e educação. O maior IDH do mundo é o da Islândia: 0,968. O menor é o do
Níger: 0,374.
A posição do IDH dos negros, segundo o relatório, corresponde
à de um país de desenvolvimento médio, 25 posições abaixo da do Brasil no
ranking da ONU. Já os brancos têm um IDH de alto desenvolvimento, 19 posições
acima da brasileira.
O trabalho da UFRJ destaca, porém, que de 1995 a 2005, os
IDHs tanto de brancos quanto de negros, cresceram, ainda que em ritmos
diferenciados, reduzindo a margem entre os grupos. Nesse intervalo de dez anos,
o IDH do grupo branco, no Brasil, cresceu 4,8% e o dos negros, 10,7%.
Apesar da melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
entre negros e da redução da desigualdade perante os brancos, a diferença ainda
é grande - a média entre negros é menor que a média nacional. Os dados são do
Relatório Anual de Desigualdades Raciais no Brasil 2007-2008, do Instituto de
Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Entre 1995 e 2005, os índices de longevidade e escolaridade
dos negros e pardos tiveram o dobro de aumento dos brancos. No mesmo período,
enquanto brancos sofreram perda de 0,31% de rendimentos, os negros ganharam
2,24% a mais.
Desde 2003, a proporção de população que vive abaixo
da linha de pobreza apresenta declínio entre brancos e pretos, mas a diferença
persiste - entre negros, é cerca de duas vezes maior que entre brancos.
A pequena redução da desigualdade entre brancos e
negros também é registrada na educação. A média de anos de estudo entre negros
e pardos em 2006, no entanto, ainda é menor que o índice registrado entre
brancos em 1995.
Mesmo com o crescimento entre 1995 e 2005, a
expectativa de vida entre negros e pardos ainda é menor que a média nacional de
72,5 anos registrada em 2005
A região Nordeste é a que apresenta a maior
disparidade na mortalidade entre homens de 18 a 24 anos de idade. A taxa de
homicídios por 100 mil habitantes entre negros e pardos é quase quatro vezes
maior do que a registrada entre brancos.
A população negra reduziu
sua representação na População em Idade Ativa – PIA – da Região Metropolitana
de Belo Horizonte – RMBH – entre 2004 e 2008, ao passar de 58,9% para 57,4%. As
melhorias verificadas na forma de inserção dos negros no mercado de trabalho da
região, no período em análise, no entanto, ainda não eliminaram as grandes
diferenças entre negros e não-negros.
Segundo as informações da
Pesquisa de Emprego e Desemprego da Fundação Seade, do Dieese, da Secretária do
Estado de Desenvolvimento Social - Sedese e da Fundação João Pinheiro, a
População Economicamente Ativa – PEA negra diminuiu entre 2004 e 2008 (de 59,7%
para 57,6%), decresceu também a proporção de ocupados e a de desempregados em
relação à sua PEA.
Esse fato, no entanto,
não modificou significativamente a sobrerrepresentação dos negros no contingente
de desempregados da RMBH (de 65,7% em 2004, para 64,7% em 2008), refletindo suas
maiores dificuldades para se inserirem no mercado de trabalho.
O aumento da participação
de negros ocupados na Indústria e a redução nos Serviços
Domésticos contribuíram
para uma ligeira melhora na composição setorial da ocupação, fato reforçado
pelo aumento da proporção da contratação formal, isto é, com carteira assinada
e acesso aos direitos trabalhistas e previdenciários.
Contudo acentuaram-se
algumas das diferenças entre negros e não-negros analisando as formas de
inserção segundo níveis de qualificação e tipos de tarefas a eles associados:
declinou a participação de negros nos postos mais qualificados relativos à
direção, gerência e planejamento, concomitante a um acréscimo entre os
não-negros. Além disso, houve diminuição de parcela de contratados no setor
público entre negros ao passo que essa mesma percentagem ampliou para não-negros,
entre 2004 e 2008. A repercussão desses fatos manifestou-se no crescimento do
rendimento médio real dos negros (15,7%) que, apesar de expressivo, foi aproximadamente
a metade da majoração de rendimentos dos não-negros (29,5%). Com isso,
acentuou-se significativamente a grande diferença existente entre os
rendimentos de não-negros e negros. No período estudado, rendimento dos negros
passou de 63,9% do valor dos não-negros, em 2004, para 57,1%, em 2008.
A justiça social, a igualdade de oportunidades, a
cidadania plena, enfim, as condições que ofereçam a todos igual distribuição
das possibilidades de obter seu sustento e a plena realização de suas capacidades
passam, necessariamente, pela construção da igualdade racial no Brasil.
CONCLUSÃO
Com este estudo foi
possível, através de pesquisa e análise da história do negro no Brasil e as
condições de vida durante a escravidão e após a assinatura da chamada Lei
Áurea, foi verificada as condições desumanas em que os negros africanos escravizados
viviam, pois a própria condição de escravidão demasiado desumana já era havendo
a imposição de se trabalhar sem descanso apropriado. Nas poucas horas de
descanso eram aglomerados em senzalas para “repouso” e logo cedo tinham de
voltar ao trabalho. Existindo sem algo essencial à humanidade, a liberdade,
aliás, nem como humano eram considerados, eram apenas forças de trabalho
“coisificadas”. Tinham vida de opressão nos engenhos e lavouras, até que se
iniciaram levantes contra aquela condição e opressão. O mais conhecido e de
maior relevância na luta dos negros contra a condição a que foram forçados, foi
a construção do Quilombo dos Palmares, que se tornou muito grande e representou
forte resistência, abrigando milhares de pessoas. A destruição desse Quilombo e
a morte de seu líder, Zumbi, em homenagem a tal resistência contra a
escravidão, deram uma data comemorativa para a comunidade negra de maior
importância que o 13 de Maio: o 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, para
lembrar a conscientização dos negros escravizados de que aquela condição que
viviam não mereciam e se organizaram e lutaram contra. A história dos negros no
Brasil, apesar da grande contribuição social e cultural, fez-se em muito como
história de opressor contra oprimido, senhor contra escravo, uma luta que foi
decisiva no desenrolar da história do Brasil, pois a luta social, direta ou
não, é uma forte engrenagem da história. Com as pressões dos abolicionistas e
também externas: da Inglaterra, foi ganhando força o movimento abolicionista.
As pressões britânicas para o fim do tráfico negreiro e, posteriormente, pelo
fim da escravidão, não tinham sentimento humanitário, exclusivamente econômico,
pois necessitavam ampliar o seu mercado consumidor e sem trabalhadores livres,
assalariados não seria possível isso nas colônias. Devido a tantas pressões,
não coube à Princesa Isabel outra ação a não ser assinar a Lei Áurea e
oficialmente “libertar” os negros que eram escravos.
Quando se deu tal
oficialização, eis a pergunta: o que seria feito dos negros libertados? Como
conseguiriam se integrar na sociedade sem nenhum plano de ação governamental
para se realizar a integração social deles? Ninguém se interessava em empregar
ou abrigar negros e ex-escravos. Destas atitudes segregacionistas surgiram nas
cidades os becos, cortiços e favelas.
Então, a Lei 3627/
2004, que prevê a obrigatoriedade das instituições públicas de ensino superior
reserve 50% de suas vagas para negros, o que é uma ação afirmativa do
preconceito racial no Brasil e que fere a Constituição Federal, em seu Art. 5°,
que dá garantias e, em especial, à igualdade entre todos os brasileiros e aos
estrangeiros residentes no Brasil. Reservar vagas para qualquer grupo social ou
étnico se contrapõe à Nossa Constituição. Talvez a intenção da instauração seja
a promoção e alcance da mítica democracia racial que Gilberto Freyre apresentou
em Casa Grande & Senzala. E raça é
um mito moderno, pois todos somos parte da espécie humana e o que chamam de
raças são distinções, principalmente devido à cor da pele, que nada mais são do
que resultados de diferenças geográficas.
A questão da baixa
frequência da população negra no ensino superior é um problema social. A
solução para esta problemática é dar condições de igualdade de oportunidades
para a formação profissional e não ceder algum tipo de vantagem sobre os demais
cidadãos.
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